terça-feira, 29 de março de 2011

AS DEZ REGRAS BUDISTAS PARA O PRATICANTE DE KUNG FU.


A expressão kung fu pode ser traduzida literalmente por maestria, ou habilidade conseguida atraves de trabalho...
Muito já sabemos sobre os fundamentos dessa maravilhosa vertente de artes marciais, sabemos que ela vem direto dos Templos ShaoLin
E tambem sabemos que eram ensinados os diversos estilos de kung fu para o melhoramento da saude do praticante.
E assim sendo foram impostas dez regras que regiam os treinamentos dos monges ShaoLin.
Obedecendo uma transcrição feita pelo Si Dai Kung Marco Natali, apresentaremos essas dez regras que funcionam até hoje como base para a criação de normas em scolas de Kung fu, como é feito dentro de nossa escola Dragão Guerreiro:


1 - O praticante de Kung Fu deve treinar sem interrupção.

Praticar a todas as horas do dia é um velho conhecimento, sempre
presente na vida dos grandes ases do Kung Fu ou de qualquer outro
esporte.
Conta-se que Bruce Lee durante suas aulas escolares colocava as
mãos sob a carteira e pressionava com força para treinar os músculos do
antebraço.
Quando assistia televisão à noite Bruce aproveitava os intervalos
comerciais para treinar os braços com halteres.
Linda Lee conta que quando ele tomava banho de chuveiro ficava na
posição Kin Nheung Mah do estilo Wing Chun para treinar as pernas e os
joelhos.
São muito conhecidas as artimanhas utilizadas por esportistas
famosos para incluir técnicas de treinamento nos momentos mais comuns
de seu dia-a-dia.
O famoso homem forte Charles Atlas, costumava carregar tampinhas
de garrafa e pregos em seus bolsos para amassar e entortar entre os
dedos enquanto viajava de ônibus.
Muitos jogadores de beisebol costumam levar uma bolinha de
borracha em seus carros e se dedicam a apertá-las com as mãos enquanto
esperam os semáforos abrirem, dessa forma exercitando os músculos do
braço.
O atleta Francisco José D'Urbano, campeão brasileiro de Kung Fu
em sua categoria, costuma praticar flexões de calejamento entre uma e
outra aula ministrada na União Nacional de Kung Fu.
A superação é a marca do campeão, se você faz apenas o que o instrutor
manda, você jamais será nada além de um medíocre lutador.
"Certo jovem chinês, desejoso de aprender as técnicas do Kung Fu
Shaolin, submeteu-se aos testes de admissão do templo e em seguida foi
encaminhado à presença do mestre.
Diante do mestre pôs-se a descrever sua ansiedade em tomar-se um
lutador poderoso, seus desejos com relação à Arte Marcial, sua admiração
pela arte de chutar, socar, saltar, lutar, etc.
Quando terminou de falar o mestre permaneceu algum tempo em
silêncio e depois lhe explicou que o valor no Kung Fu não está na força e
no poder e sim no conhecimento.
O garoto continuou a insistir em sua admiração pelas técnicas de
luta.
O mestre lhe contou a respeito de um touro que entrou em uma loja
de louça e pisoteou os vasos e as cerâmicas finas, reduzindo tudo a cacos.
O menino continuou a elogiar as técnicas que havia presenciado e
os lutadores que havia conhecido.
O mestre insistiu que as ambições dele eram demasiadas e que se
quisessem aprender tudo aquilo, uma vida só não bastaria.
Ele respondeu que não tinha muito tempo, que tinha pressa e que
queria aprender mesmo que fosse umas poucas técnicas.
Mais uma vez o mestre o aconselhou a meditar no touro da loja de
louça fazendo-o ver que podia se transformar nesse touro, e que acabaria
por destruir ao mundo a seu redor como o touro destruiu a loja.
Mais o jovem continuou a insistir mais e mais em aprender as
técnicas que desejava.
O mestre então lhe propôs uma última prova antes de ser admitido
aos ensinamentos marciais do templo.
A prova consistia em amassar uma folha de papel transformando-a
em uma bola e depois alisá-la novamente e recomeçar outra vez,
transformando-a novamente em bola e alisando e prosseguindo assim até
que o papel se reduzisse a tiras; deveria então pegar outra folha e
recomeçar.
Esse exercício deveria ser feito diariamente por doze horas, durante
três anos.
Terminados os três anos o jovem retornou à presença do mestre e
este indagou:
- Praticou continuamente durante doze horas diárias como lhe foi
recomendado?
- Sim; respondeu o jovem.
- Então pode ir embora - respondeu o mestre. - Seu aprendizado
terminou.
O jovem ficou muito aborrecido e decepcionado, pois tinha seguido
à risca as instruções do mestre.
À custa de muito sacrifício tinha praticado doze horas diárias e
agora o mestre se recusava a lhe ensinar o que tanto queria.
Sentiu-se enganado e culpou o mestre por ter lhe roubado três anos
de sua vida.
Voltou para casa e assim que chegou, seu irmão que estava no
banho pediu-lhe que lhe esfregasse as costas.
Começou a esfregar as costas do irmão mas teve que parar, pois
descobriu que por onde passava sua mão a carne se abria e jorrava
sangue..."

2 - O praticante de Kung Fu deve usar suas técnicas apenas para
defesa pessoal.


Uma pessoa que sabe Kung Fu tem superioridade física sobre as
pessoas que não aprenderam técnicas de defesa pessoal, independente de
sua estatura e peso.
O que você pensaria se visse um adulto espancando uma criança?
Nessa mesma proporção, um praticante de Kung Fu que use sua
superioridade técnica para subjugar alguém que desconheça as técnicas
de defesa pessoal, age como um adulto que espanca uma criança.
Da mesma forma que é de se esperar que um adulto não abuse de
sua estatura para infligir castigos físicos a uma criança, também é de se
esperar que um praticante de Kung Fu não abuse de seus conhecimentos
técnicos para espancar qualquer pessoa, seja adulta ou não, seja maior em
estatura ou não.
Aliás, o Código Penal Brasileiro condena qualquer pessoa que mate
seu adversário usando golpes desferidos com as mãos nuas, mesmo que o
adversário esteja armado.
Os antigos afirmavam que o Kung Fu tinha por objetivo transmitir
ensinamentos de autodisciplina e autoconhecimento, não devendo jamais
ser usado contra outro ser vivo (seja homem ou animal).
"O Rei Suan da dinastia Chou era um guerreiro valente e muito
poderoso.
Certa vez ouviu falar do grande Mestre Po-Kung-Hi e de sua grande
fama; decidiu-se a procurá-lo e medir suas forças com ele.
Quando chegou diante de Po-Kung-Hi perguntou-lhe qual era sua
especialidade, em que técnica era mais forte.
Po-Kung-Hi respondeu:
- Posso arrancar a perna do gafanhoto e impedir que a cigarra abra
suas asas.
Espantado, o Rei Suan lhe disse:
- Sou capaz de atravessar o couro de um rinoceronte com um só
golpe de meus punhos. Como é que você, capaz de feitos insignificantes é
mais famoso do que eu?!
Po-Kung-Hi respondeu:
- Aprendi de Tze-Shang-Chi, que era tão forte que jamais houve
outro lutador como ele, mas cujas proezas nunca foram vistas por alguém,
pois não gostava de se exibir."
Um dos melhores livros sobre Artes Marciais traduzido para línguas
ocidentais é o "Karate-Do My Way of Life", de Gichin Funakoshi - o criador
da palavra Karate.
Nessa obra o autor relata que quando estava com oitenta anos foi
surpreendido por um assaltante que tentou roubá-lo, em um dia de chuva
em que carregava em sua mão esquerda um saco contendo uma lancheira
vazia e alguns livros, e na mão direita um guarda-chuva.
Tal fato ocorreu enquanto voltava para casa e caminhava entre as
estações Otsuka e Hikawashita, em Tóquio.
O marginal arrebatou-lhe o guarda-chuva das mãos e tentou golpeálo
com a ponta.
Funakoshi agachou-se e com a mão direita agarrou firmemente os
testículos do adversário.
O guarda-chuva caiu no chão na hora e o rapaz começou a gemer
parecendo que ia morrer.
Funakoshi termina esse relato dizendo:
"... Eu tinha feito o que constantemente tinha dito a meus jovens
discípulos para nunca fazerem... Não me senti muito orgulhoso de mim
mesmo." Citado do "Karate-Do My Way ofLife", Kodansha International,
First Paperback Edition, 1981 - Página 112.
Essa pequena história mostra a grandeza de Funakoshi, que foi um
grande artista marcial e que pregava a seus discípulos a segunda norma
budista.

3 - O praticante de Kung Fu deve respeito a todos os mestres de
Kung Fu e outras artes marciais e a todos os discípulos que praticarem há mais tempo
que eles.


A tradição do Kung Fu relata que as escolas marciais da velha China
eram administradas dentro de um sistema quase familiar.
O mestre era considerado como um pai e sua esposa como mãe.
Os alunos mais antigos eram tidos como irmãos mais velhos e
tratados com todo o respeito.
As pessoas que iniciavam o treinamento juntas tratavam-se umas às
outras como irmãs.
Os discípulos que entrassem depois delas eram tratados como
irmãos mais novos e mereciam toda a atenção e prestimosidade.
Dentro desse espírito de fraternidade os outros mestres eram
também respeitados por seus conhecimentos e mesmo que dois mestres
não se dessem entre si, seus discípulos os respeitariam igualmente e
jamais fariam críticas ao outro mestre.
Foi esse respeito mútuo que garantiu a sobrevivência do Kung Fu
até nossos dias, e quando os mestres de Kung Fu deixarem de se respeitar
dessa maneira, ou se permitirem criticar a outros mestres diante de seus
alunos, estarão contribuindo para o desaparecimento do Kung Fu.
"O discípulo Li certa vez perguntou ao Mestre Shiu se tinha ouvido
falar no Mestre Pu Hao, cuja técnica era inferior e de origens
desconhecidas.
Mestre Shiu respondeu que nunca havia ouvido falar em Mestre Pu
Hao, mas que conhecia Mestre Hao, que era um mestre respeitável e que,
embora possuísse poucos conhecimentos técnicos, contribuía muito para
a preservação dos verdadeiros conhecimentos do Kung Fu."

4 - O praticante de Kung Fu deve ser amigo de seus colegas e
demonstrar em suas atitudes bondade, respeito e honestidade.


Ser amigo de alguém, principalmente de um colega de treinos,
implica em interessar-se genuinamente pela outra pessoa.
Quando somos amigos de alguém, nos interessamos por seu
progresso, nos entristecemos quando percebemos que não consegue seus
objetivos, nos sentimos felizes quando vemos o sucesso que consegue
alcançar.
É muito importante que o praticante de Kung Fu deixe de ser infantil
em seu comportamento com relação aos colegas.
O praticante infantil é aquele que perde um tempo precioso
criticando colegas de treino.
O praticante infantil adora corrigir os outros, sem dar a devida
atenção à correção das próprias falhas.
O praticante infantil quando se torna bom de luta, começa a esnobar
os colegas de treino, não os cumprimenta mais, não responde a seus
cumprimentos, toma atitudes orgulhosas com relação a todos.
O praticante infantil não sabe substituir as fofocas que ouve pela
realidade que vê.
O praticante infantil não compreende que não é importante ser o
melhor de sua escola.
O praticante infantil não compreende que a verdadeira Arte Marcial
não consiste em vencer aos outros e sim em VENCER A SI MESMO.
Vencer a si mesmo implica em dominar os sentimentos de
superioridade, os comportamentos egoístas e substituir o desejo de ser
melhor que os outros pelo interesse sincero em ser bondoso, amigo e leal
com os companheiros, não só de sua academia como das academias que
ensinam estilos diferentes do seu.
Esse tipo de batalha é a mais difícil de todas, mas a vitória final
obtida com essa luta é a maior de todas.
"Nos tempos antigos havia dois praticantes de Kung Fu chamados Li
e Ping, que desde crianças haviam praticado juntos, tendo se tomado
grandes amigos.
Certo dia resolveram tatuar seus braços com a mesma tatuagem
como símbolo da amizade que os unia, dessa forma se tomaram irmãos e
se juraram fraternidade enquanto vivessem.
Devido a razões de família, separaram-se e não mais se tornaram a
ver.
Com o tempo tomaram-se adultos e seguiram caminhos diferentes.
Embora ambos continuassem a treinar o Kung Fu com regularidade
e persistência, Li se tomou famoso comissário de polícia enquanto Ping
tomou-se um jogador.
Uma ocasião Li foi enviado a uma cidade distante para deter uma
gangue de traficantes que mantinha um cassino ilegal.
Li invadiu o cassino e enfrentou a todos os bandidos que lá
estavam, tendo vencido brilhantemente graças a seu domínio do Kung Fu.
Em seguida teve que enfrentar o chefe da gangue que se ocultara em
uma sala especialmente reforçada.
Com algum esforço Li conseguiu penetrar na sala e enfrentá-lo.
Quando começou a lutar Li percebeu que se tratava de seu grande
amigo Ping, mas como cada um lutava pelo que julgava ser seu dever
brigaram durante horas.
Finalmente Ping conseguiu vencer a Li e quando o seu amigo estava
caído no chão ensanguentado, abraçou-o fortemente e chorou muito.
Como todo praticante de Kung Fu conhece profundamente
Acupuntura, Ping tratou de seu amigo até que se recuperasse plenamente.
Quando Li já estava bom, Ping o acompanhou e se entregou à
justiça.

5 - O praticante de Kung Fu deve evitar demonstrar suas técnicas,
mesmo que para isso tenha que recusar um desafio.


Esta regra foi criada para impedir que as técnicas do Templo Shaolin
fossem aprendidas por algum praticante de Kung Fu de outro estilo que as
poderia usar com propósitos menos elevados.
Como praticante de Kung Fu você se torna responsável pelo que
sabe e não deve transmitir seus conhecimentos indiscriminadamente.
Se você ensina o que sabe a alguém e esse alguém faz mau uso do
que aprendeu, você é o responsável.
Além do que, muitos praticantes de Kung Fu transmitem seus
conhecimentos não com a intenção de ajudar seus discípulos, e sim com o
desejo de se sentir importante, por orgulho das técnicas que aprendeu.
"Antigamente vivia próximo ao lago Ching-Hai um jovem monge que
possuía grande habilidade em Kung Fu.
Sendo tão hábil na arte de lutar esse monge era mais ou menos
convencido e orgulhoso.
Seus colegas monges gostavam muito dele e por amizade o
advertiam que deveria controlar seu temperamento e que essa sua
habilidade pessoal não deveria tomar conta de sua mente, havendo coisas
muito mais importantes na vida.
Não sendo burro, o monge compreendeu que seus amigos tinham
razão e dedicou-se a seus estudos, à leitura de livros de Filosofia e à
prática da meditação.
No outono do ano seguinte, realizou-se uma grande competição de
Kung Fu em Sagan-Ushu e o monge obteve autorização para par¬ticipar
dela.
Chegando ao local das competições enfrentou todas as classes de
lutadores; desde outros monges muito habilidosos em Kung Fu, a
guerreiros de terras distantes exímios praticantes de outras modalidades
marciais.
Devido a sua grande habilidade foi sagrado campeão e iniciou a
viagem de regresso.
Quando já caminhava há algum tempo, encontrou um lutador que o
desafiou a lutar.
Orgulhoso como estava por ter vencido a todos no campeonato, o
jovem monge esqueceu-se da quinta regra e aceitou o desafio.
Lutaram durante várias horas, até que o monge conseguiu vencer
seu adversário mas, como havia anoitecido e estava cansado depois de
tanta luta, decidiu dormir à margem do caminho. Com o raiar do Sol
reiniciou sua caminhada de volta ao monastério.
Em determinado momento foi reconhecido por outros viajantes que
o convidaram a almoçar com eles.
Quando terminou de almoçar um deles o convidou a lutar.
Sem poder recusar teve que enfrentá-lo.
A luta tomou-lhe apenas meia hora, mas atraiu espectadores e assim
que terminou de lutar um deles o atacou de surpresa, fazendo com que
tivesse que lutar de novo.
Nem bem liquidou com seu novo oponente, se agachou para pegar
sua bagagem, foi novamente desafiado e nesse momento se recordou da
quinta regra e dos conselhos de seus colegas monges, percebendo que
onde quer que fosse sempre haveria alguém que o desafiaria.
À medida que lutava com o novo adversário, percebeu que este não
era tão bom quanto os anteriores, o que lhe permitiu enfrentá-lo enquanto
pensava em tudo que estava acontecendo.,
Foi então que os conhecimentos filosóficos que havia estudado e as
meditações que havia feito vieram a sua mente.
Chegou à conclusão que o EU INTERIOR era muito mais importante
que o EU EXTERIOR.
Compreendeu que as vitórias que tinha obtido agradavam apenas a
seu EU EXTERIOR, a seu EGO, a seu orgulho infantil.
Compreendeu que o Kung Fu era a arte de vencer aquele impulso
infantil de demonstrar aos outros sua grande habilidade.
Então passou a abrir a sua guarda, a não defender os golpes do
adversário e a deixar-se vencer.
Quando vencido foi ridicularizado e abandonado por todos, que
passaram a seguir o novo campeão.
Caído no chão e ensanguentado pelos golpes de seu adversário, que
para ele teria sido tão fácil de vencer, o monge sorria feliz.
Não queria mais ser um grande campeão de Kung Fu, pois sabia que
o caminho de sua vida estava na meditação e no estudo.
Com a derrota aprendeu que o Kung Fu era o TEMPO DE
HABILIDADE para converter seu Eu em algo profundo e muito grande.
Sua habilidade continuava a mesma, continuava apto a defender-se
em alguma ocasião de perigo, mas agora poderia sentir satisfação com
outras coisas além de sua capacidade de lutar.
Apanhou suas coisas e voltou ao templo."

6 - O praticante de Kung Fu jamais deve ser agressivo ou ter
maneiras rudes.


O verdadeiro mestre de Kung Fu deve se esforçar por ter um
controle pleno sobre si mesmo, evitando os comentários desairosos sobre
os outros mestres, evitando os desafios e os comportamentos rudes e maleducados.
"Vivia em uma pequena aldeia chinesa o Mestre Chan, famoso por
seus conhecimentos do estilo Shaolin, do estilo Tong Long, por sua
habilidade nas técnicas dos Oito Deuses Bêbados e pelo domínio da Palma
de Ferro e das dezoito armas chinesas.
Em sua juventude havia sido um invejoso, sempre caluniando outros
mestres que tinham conseguido mais fama que ele.
Apesar de toda a sua habilidade no Kung Fu, sua maior arma ainda
era a fofoca, a maledicência, o desprezo.
Seus alunos, por confiarem nele, acreditavam que tudo que dizia era
verdadeiro e passaram também a desprezar os outros mestres.
Esses outros mestres sabiam do procedimento do mestre Chan, mas
não lhe queriam mal, simplesmente tinham pena dele.
Quando os discípulos desses mestres lhes perguntavam a respeito
do Mestre Chan, estes lhes respondiam que se tratava de um mestre muito
valente, pena que fosse tão infantil e não soubesse respeitar a seus
colegas.
Alguns mestres chegavam mesmo a recomendar sua escola a
pessoas que moravam próximas à sua região, recomendação essa que
Mestre Chan seria incapaz de fazer a respeito deles.
A valentia de Mestre Chan era muito grande. Certa vez entrou
sozinho na caverna de um grande urso negro que assustava a população
da vila, enfrentando a fera e saindo de lá com ele morto.
Certo dia estava andando pela rua quando um ancião se aproximou dele e
lhe disse:
- O senhor é um grande mestre e possui habilidades espantosas,
mas por que, ao invés de perder tempo falando mal de outros mestres, o
senhor não enfrenta os três monstros que estão assustando o povo?
Mestre Chan estranhou a interpelação e perguntou quais eram os
três monstros.
O ancião explicou que havia um grande tigre rondando o povoado e
que já havia comido três homens.
Mestre Chan pegou suas armas e saiu em busca do tigre, matando-o
a golpes de lança e punhal.
Voltou ao povoado, procurou o ancião e lhe disse:
- Já matei o tigre, qual é o próximo monstro?
O ancião lhe contou que havia uma grande serpente que se ocultava
no caminho da aldeia atacando os viajantes.
Mestre Chan pegou sua corrente articulada e foi atrás da serpente,
matando-a.
Quando voltou à aldeia perguntou ao ancião qual era o terceiro
monstro.
O ancião respondeu:
- Você é o terceiro monstro.
Mestre Chan ficou furioso e ergueu seu poderoso punho para
fulminar o pequeno ancião.
Mas o ancião continuou a falar:
- Você é um grande mestre, para você é muito fácil me tirar a vida,
minha técnica não é suficiente para enfrentá-lo, mas mesmo que você me
mate continuará sendo o terceiro monstro, pois sua língua é ferina e
venenosa e o mal que ela faz apaga todo bem que sua arte consegue fazer.
Mestre Chan abaixou seu punho e foi-se embora, passou toda a
noite pensando, no dia seguinte juntou algumas roupas e caminhou até a
montanha onde meditou durante três meses.
Enquanto meditava na montanha reparou que quando o vento forte
derrubava os troncos vigorosos e acariciava as folhagens flexíveis, a
chuva matava a sede dos dois.
Compreendeu que a chuva era mais sábia que o vento, e que todas
as pessoas, boas ou más, com grandes ou com medíocres conhecimentos,
continuavam a merecer a luz do Sol e a água da chuva.
Retornou à aldeia e o povo de lá ficou surpreso quando viu que
havia se modificado, suas maneiras eram as de um homem cortês e se
comportava com amabilidade em relação a todos os outros mestres,
mesmo com aqueles a que julgava ser superior."

7 - O praticante de Kung Fu jamais deve comer carne ou provar
bebidas alcoólicas.


Esta norma se divide em duas partes, a primeira refere-se ao não
comer carne, a segunda ao não provar bebidas alcoólicas; trataremos cada
uma dessas partes de cada vez.
Mesmo apesar de certas pessoas, por não serem budistas não
julgarem que seja errado comer carne, existem outras razões para não
comê-la.
Devemos um certo respeito ao nosso corpo e afinal de contas, o
corpo é o instrumento de que nos utilizamos para a prática do Kung Fu.
Existem muitas razões para não se comer carne e podemos situá-las
em dois contextos diferentes: o contexto espiritual e o contexto fisiológico.
Se você teve oportunidade de ver a série Kung Fu na televisão deve
ter reparado que Kwai Chang Caine, o personagem principal, não comia
carne.
Nenhum monge budista come carne, visto que um dos preceitos do
Budismo ensina a não fazer mal a ser algum.
Esse é um contexto espiritual envolvendo o ato de não comer carne,
que é adotado por centenas de escolas filosóficas do mundo todo desde a
mais remota antiguidade.
Se você não come carne está na companhia de Alex Carrel, Are
Werland, Bergson, Bernard Shaw, Brandt, Buda, Cervantes, Darwin, De
Rose, Descartes, Diógenes, Éder Jofre, Einstein, Epicuro, Epiteto, Gandhi,
Jean Rostand, Jesus, Kant, Krishnamurti, Lao Tse, Leonardo da Vinci,
Maeterlinck, Olegário Candeias, Ovídio, Pitágoras, Platão, Plutarco,
Rousseau, Ruskin, Russell, Ryner, Santaiana, São Clemente de Alexandria,
São Francisco de Assis, São João Crisóstomo, Schoppenhauer,
Schweitzer, Sócrates, Spencer, Spinoza, Tertuliano, Thoreau, Tolstoi,
Voltaire, Weiss, William James, Zamenhoff, e milhares de outros grandes
homens. Portanto, seja esperto, não coma carne.
Veja bem que se você não tem bom senso, não o forço a nada, se
decidir continuar a comer carne ou se decidir deixar de comê-la o critério é
seu, mas como verificará neste capítulo, existem excelentes razões para
deixar de comer carne.
As obras fundamentais das culturas mais espiritualizadas do mundo
condenam o consumo da carne. Citando o Mahabharata:
"Pode haver alguém mais cruel e egoísta do que aquele que aumenta
a carne de seu corpo comendo a carne de inocentes animais?
Aqueles que desejam possuir boa memória, beleza, vida longa com
saúde perfeita, força física, moral e espiritual, devem abster-se de
alimentos animais.
Virtude das mais sublimes consiste em não matar animais.
Quando se pode obter facilmente tão copiosa quantidade de
alimentos daquilo que cresce espontaneamente na terra, cometerás tão
grande ato de crueldade como matar animais para encher teu estômago e
experimentar um pequeno prazer do paladar?
Compara o homem que come com o animal que é comido.
Um goza o prazer de comer que dura alguns momentos e o outro é
desprovido de todos os prazeres da vida."
Citando os Vedas:
"Não mateis nenhuma criatura viva, seja por alimento, seja por
prazer.
Não se mate nenhum animal para teu prazer, vê a harmonia na
Natureza e empresta tua mão auxiliadora a todas as criaturas vivas.
Todos aqueles que permitam a matança de animais, assim como os
que os matam, cortam, preparam, vendam suas carnes ou as cozinhem,
sirvam ou comam, serão por igual considerados assassinos."
Citando a Bíblia:
"Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão sementes, as quais
se acham sobre a face da Terra, e todas as árvores em que há fruto que dê
sementes; servos-ão para alimento." Gên.,1:29.
Citando as palavras de Gandhi:
"Deveríamos comer não a fim de agradar ao paladar, mas sim para
manter o corpo em bom funcionamento. Qualquer quantidade de
experiências é demasiado pequena e nenhum sacrifício é demasiado
grande para alcançara sintonia com a Natureza.
Há uma grande verdade na afirmação de que o homem se transforma
naquilo que come.
Quanto mais grosseira fora alimentação, mais grosseiro será o
corpo.
O gosto se adquire, não nasce conosco.
Nenhuma das delícias culinárias do mundo chega ao deleite que o
apetite proporciona.
Um homem faminto comerá um pão seco com o maior prazer, ao
passo que quem não tem apetite recusa o melhor dos doces.
Os alimentos devem ser ingeridos como um dever, como um
remédio, a fim de sustentarmos o corpo e não exclusivamente para
satisfazer o paladar.
Acho que ninguém, pelo que sei, tem comido tanta fruta quanto eu.
Vivi seis anos exclusivamente de frutas, frescas e secas, e sempre
tive uma provisão bem abundante de frutas como parte da minha dieta
habitual.
Para conservar a saúde as frutas e os legumes frescos têm que
constituir a parte principal da nossa dieta.
Muitas vezes me regalei comendo folhas de nabo, de cenoura, de
rabanete e de amendoim.
A fruta fresca é boa para comer, mas basta uma pequena quantidade
para regular o organismo.
Trata-se de um artigo caro e sua utilização excessiva, pelos que têm
mais recursos, priva os pobres e os enfermos de um alimento de que
necessitam mais do que os abastados."
Citando outros pensadores:
“Os vegetais constituem alimentação suficiente para o estômago e
no entanto o recheamos com vidas valiosas" - Sêneca.
"A Gula tem causado mais mortes do que a espada." - Salomão.
"Zaratustra, o sábio profeta, só comia frutas." - Plínio.
“Os antigos egípcios preferiam morrer a profanar o ventre comendo
carne.” - Orígenes.
“Os poucos filósofos vegetarianos fizeram mais pelo bem da humanidade
do que todos os demais filósofos modernos.” - Nietzsche.
“Os mesmos animais que você não atreveria a beijar quando vivos, por
nojo, servem quando mortos, para que encha sua pança.” - Paul Richard.
“Pitágoras sentia tal compaixão pelos animais que quando via um
pescador puxando uma rede comprava todos seus peixes para lançá-los
novamente à água, aproveitando para discursar às pessoas que se
encontrassem na praia sobre a monstruosa atividade de matar animais e
comê-los.” - Porfírio.
"A carne dos animais não nos foi dada como alimento, por isso quando os
matamos tornamo-nos réus de crime de morte e expomo-nos a morrer do
mesmo modo, pois deixamos de ser humanos." - Triptolemo.
"Entre os que se alimentam apenas de frutas, dificilmente se encontram
ladrões, assassinos, ditadores e aduladores, ao contrário do que acontece
entre os que comem carne." - Diógenes.
"Nem um só dos argumentos usados contra o vegetarianismo resiste a um
exame honrado e sincero." - Alexis Carrel.
"Reconhecer a verdade da doutrina de Jesus e não proceder de acordo
com ela, continuando a matar e a devorar animais, é uma covardia e
hipocrisia farisaicas." - Carlos Brandt.
"É da alimentação cárnea que derivam todos os demais vícios." - Santo
Agostinho
“Um dos maiores prazeres de Leonardo da Vinci consistia em ir à feira
comprar patos e outras aves para restituí-las à liberdade.” - Giovanni
Bollraffio.
“É incrível que não se encontre entre nós nenhum pregador que faça ouvir
um protesto contra o vergonhoso hábito de se alimentar de carne.’’ -
Voltaire.
Agora que você teve a oportunidade de apreciar o parecer de
algumas das mentes mais lúcidas da história da humanidade, vou citar
trechos da obra "Porque o Hindu é Vegetariano", de autoria de Swami
Abhedananda:
"Porque se come carne?
Por necessidade de nutrição?
Não; bastam-nos os vegetais, cereais, legumes, etc.
Por conveniência de saúde?
Não também; em média os vegetarianos são mais sadios que a
maioria dos comedores de carne. Porque então se come carne?!
Pelo hábito, transmitido de geração em geração, por ignorância, por
falso comodismo, por displicência moral.
Nos primórdios da humanidade a agricultura era desconhecida e os
povos nutriam-se de frutas, nozes e demais produtos vegetais que
encontravam em abundância.
Quando houve escassez de frutas e nozes os homens passaram a
comer de tudo que deparavam ao redor.
O problema da subsistência premente antepunha-se ao da
alimentação normal.
Nada sabendo do cultivo da terra e não dispondo mais de produtos
vegetais em quantidade suficiente as tribos selvagens passaram a comer
animais (aves, répteis e insetos).
Algumas pessoas acreditam que quem não come carne fica fraco e
indisposto para o trabalho, faltando-lhes coragem e energia.
Ê mais um engano.
Já ouviram falar dos "Sikhs", soldados indianos vegetarianos, que
são os combatentes mais fortes e bravos do exército inglês?
O regime vegetariano proporciona grande resistência física e
orgânica, além de moderação no temperamento.
Geralmente se confunde temperamento agitado e violento com
coragem e força.
Muita gente acredita que um tigre ou um lobo sejam mais fortes que
um cavalo, um búfalo ou um elefante.
Um tigre pode matar um cavalo, um búfalo ou um elefante, sem
todavia possuir a força muscular e a resistência física que caracterizam os
animais herbívoros e que lhes possibilita carregar pesadas cargas por
longas distâncias.
Um tigre pode matar até um elefante, mas não consegue erguer
troncos que pesam centenas de quilos.
Ferocidade é uma coisa e força muscular é coisa bem diferente.
Devemos saber distinguir uma da outra.
A fonte da força está no reino vegetal; não na carne.
Se comer carne é condição para adquirir força, por que os que a
comem preferem carne dos animais herbívoros ao invés da dos
carnívoros?
Entre os animais ocorre que os carnívoros são mais irrequietos que
os herbívoros. O mesmo ocorre entre os homens: os comedores de carne
são mais nervosos, têm menos domínio próprio do que os vegetarianos.
A natureza calma, equilibrada e de autocontrole é sinal de progresso
espiritual, o que vem provar que o alimento animal não é adequado ao
desenvolvimento superior.
Aí está por que os comedores de carne acham tanta dificuldade em
concentrar a mente: para eles é praticamente impossível meditarem na
natureza espiritual e divina do homem.
Por isso os indianos que conhecem os segredos da Espiritualidade
opõem-se absolutamente ao regime cárneo.
Toda vez que matamos qualquer animal para nossa alimentação ou
por prazer, somos egoístas.
É por causa de um egoísmo extremo que não reconhecemos os
direitos dos animais.
Esta forma de egoísmo é a raiz de todos os pensamentos e ações
perversas.
O que nos faz egoístas e nos favorece o apego ao eu inferior é o mal;
o que nos liberta para o altruísmo é o bem.
O que nos fecha em nós próprios impedindo-nos de sentir a unidade
do espírito é a ignorância humana; o que abre nossa vida espiritual e
permite-nos contemplar a Divindade dentro das formas animais é a
Sabedoria Divina."
“Certa feita o Papa sentiu compaixão pelo rigor das regras da Ordem
dos Trapistas que proíbe que os monges dessa irmandande se alimentem
com carne.
Enviou então um emissário com o objetivo de autorizar o Geral da
ordem a revogar essa regra e a permitir o consumo de carne uma vez por
semana.
Em resposta o Geral da Ordem dos Trapistas enviou ao Papa uma
delegação de gordos frades que agradeceram a boa intenção do Papa, mas
rogaram que não introduzisse nenhuma alteração em suas regras.
Todos da comitiva estavam muito bem nutridos e o mais novo deles
tinha 83 anos..."
Três diferenças fundamentais separam o homem da abjeta confraria
dos carnívoros, dos necrófagos e dos carniceiros.
A primeira delas é a conformação da arcada dentária dos carnívoros
e do homem.
Os dentes dos carnívoros apresentam-se pontiagudos, alongados e
com separação distinta entre si.
É óbvia a finalidade desse tipo de dentição: apresar, rasgar e
despedaçar a carne.
Não se incluem entre as finalidades dos dentes dos carnívoros o ato
de triturar a carne.
Isso ocorre porque muito pouco da atividade digestiva do carnívoro
acontece na boca do animal. A maior parte desse processo ocorre ao
longo do estômago e do tubo digestivo.
É que outra das diferenças fundamentais que separam o homem do
carnívoro consiste no tamanho da abertura da boca e da garganta, que é
bem diferente entre eles.
Repare por exemplo no cão; o tamanho de sua boca é imensamente
maior que a boca do homem, desde que se tome por proporção relativa o
tamanho de seus corpos.
E o pescoço?
Você já reparou na proporção do pescoço de um cão?
Parte da razão desse tamanho desproporcional (em relação ao resto
do corpo), está no fato que o cão possui uma grande abertura na garganta
(goela), que lhe permite engolir grandes pedaços de carne sem triturá-los.
Já o homem, que tem a seu dispor uma abertura proporcionalmente
menor, se vê obrigado ao consumo sistemático de pequenos bocados de
alimentos.
Daí a conformação de seus dentes ser mais apropriada à intensa
mastigação e trituração dos alimentos, dando início a uma importante
parte do processo digestivo quando o alimento ainda está em sua boca.
Os carnívoros, tais como o cão, não necessitam mastigar o alimento,
apenas cortá-lo e engoli-lo em grandes pedaços, quase que imediatamente.
Os caninos dos carnívoros são alongados, fortes e pontiagudos; são
usados para prender e despedaçara carne.
O exame da constituição dentária do homem moderno revela que ele
possui todas as indicações de um animal estritamente herbívoro.
O estômago dos animais carnívoros possui dez vezes mais ácido
clorídrico, usado na digestão de tecidos cárneos e ossos, que o do
homem.
A terceira e mais importante diferença fundamental entre o homem e
os carnívoros está no formato e proporção do tubo digestivo.
É sabido que a carne se putrefaz com facilidade, vai daí a
necessidade de expeli-la com rapidez antes que as impurezas que se
originam no processo de seu apodrecimento envenenem o organismo do
carnívoro.
Os animais carnívoros têm os intestinos relativamente curtos, para
que a carne ingerida não permaneça dentro deles muito tempo.
Ao passo que o homem possui intestinos finos e alongados, as
divisões do intestino grosso do homem, em cólon ascendente, transversal
e descendente, curva sigmóide e reto, encontram-se apenas em alguns
primatas.
Além do mais, a disposição interna do tubo digestivo forma no
homem como que pequenas bolsas, onde o alimento fica retido por mais
tempo do que seria saudável se fosse carne.
Em poucas palavras: carnívoro ingere a carne e pouco tempo depois
a excreta, livrando-se em tempo das substâncias nocivas geradas por seu
apodrecimento.
Ao passo que o homem, considerando-se entre outros fatores o
tamanho de seus intestinos, demoraria muito mais para excretar os
resíduos da carne, permitindo dessa forma que elementos perniciosos
fossem absorvidos.
Outra diferença que distingue os animais carnívoros dos animais
vegetarianos é o mecanismo de transpiração.
Os carnívoros permanecem em suas cavernas durante o dia e saem
para caçar ao anoitecer, não possuindo glândulas sudoríparas em sua pele
(transpiram através da língua), ao passo que os animais herbívoros, como
o homem, o cavalo, a vaca, a zebra, o antílope, etc., permanecem sob o sol
para colher seus alimentos e portanto suam através da pele.
Outro detalhe interessante é que os herbívoros sorvem a água que
bebem sugando-a com a boca, ao passo que os carnívoros a ingerem com
a língua.
A aqueles que se espantam com a importância que dei à
permanência da carne no organismo humano, aconselho a seguinte
experiência:
Ingira uma colher de caroços de mamão e verifique em suas fezes o
tempo que demoram para serem excretados.
Não me espantaria se alguns de vocês verificassem surpresos que
os caroços só começariam a aparecer nas fezes cinco, dez ou mesmo
quinze dias depois de ingeridos.
Agora experimentem deixar um pedaço de carne sobre uma mesa
durante cinco, dez ou quinze dias e vejam o que acontece (é bom lembrar
que a temperatura do corpo é bastante superior à temperatura ambiente,
de modo que o apodrecimento é ainda mais rápido).
Acho que as conclusões a que chegou são bastante óbvias - deixo
ao bom senso a decisão a tomar.
Lembre-se:
"Não tomar uma decisão também é tomar uma decisão."
O Dr. Mac Callum, eminente patologista, especialista em pesquisas
sobre toxinas produzidas pela putrefação intestinal, declarou o seguinte:
"A função do colón é transportar e descarregar os resíduos inócuos
de uma alimentação imputrescível. Restos pútridos de carne transformam
o colón numa larga porta por onde um exército de substâncias tóxicas
penetra na corrente sanguínea, tornando-se causa de degeneração e
moléstia em todos os órgãos do corpo, causando, entre outras,
arteriosclerose, cirrose hepática, algumas formas de nefrites, anginas do
peito e demência senil.
Causam perda de eficiência ao fígado e ás glândulas de secreção interna,
ocasionando acúmulo de venenos no sangue, endurecimento das artérias,
mudanças degenerativas nos nervos, nos músculos, no coração e outros
órgãos, além de menor resistência vital e senilidade prematura."
A área de terra utilizada para produzir colheitas para o consumo
humano, alimenta proporcionalmente catorze vezes mais pessoas do que
quando é utilizada para produzir alimento para animais que, por sua vez,
serão abatidos e utilizados como alimento.
O animal que se alimenta com as plantas produzidas num acre de
terra, até chegar na idade de abate, terá consumido 800 mil calorias
produzidas por essas plantas e seu cadáver irá fornecer apenas 200 mil
calorias.
Tais fatos demonstram que, em termos de produção alimentar é um
imenso desperdício econômico e social investir-se na produção da carne
ao invés de fazê-lo em plantas comestíveis.
Quanto ao teor protéico, sabe-se que o cadáver do animal nos
devolve apenas uma pequena parcela das proteínas que ingere, na forma
de carne.
Veja as tabelas abaixo:
Quantidade de proteína consumida na alimentação dos animais, comparada com a quantidade
que eles devolvem como alimentação humana em leite e carne, bovina e suína.
PROTEÍNA CONSUMIDA PELOS ANIMAIS 100%
PROTEÍNA DEVOLVIDA NA FORMA DE LEITE 23%
PROTEÍNA DEVOLVIDA PELA CARNE DE PORCO 12%
PROTEÍNA DEVOLVIDA NA CARNE BOVINA 10%
Calorias (combustível alimentar) consumidas na alimentação dos animais, comparadas com as
calorias que eles devolvem como alimentação humana em leite, ovos e carne.
CALORIAS CONSUMIDAS PELOS ANIMAIS 100%
CALORIAS DEVOLVIDAS NA FORMA DE LEITE 15%
CALORIAS DEVOLVIDAS EM OVOS 7%
CALORIAS DEVOLVIDAS EM CARNE 4%
Podemos concluir facilmente que comer carne é um absurdo
fisiológico; produzir carne para o consumo é economicamente e
socialmente inviável, constituindo-se em fator agravante da fome mundial,
pois utiliza área útil ao plantio, reduzindo em 14 vezes o potencial dessa
área no que tange às possibilidades alimentares que ofereceria caso fosse
utilizada para plantas comestíveis.
Jean Mayer, nutricionista de Harvard, calcula que reduzindo-se em
10% a produção de carne, se produziria cereal suficiente para alimentar 60
milhões de pessoas.
É alarmante saber que 80 a 90 por cento de todo cereal produzido é
usado para alimentar animais de corte.
Os cientistas afirmam que é o consumo de carne a maior causa da
fome em nosso planeta.
A carne é o alimento mais antieconômico que o homem consome,
visto que o custo de meio quilo de proteína da carne é VINTE VEZES mais
alto do que o da proteína vegetal igualmente (ou mais) nutritiva.
Sem falar que (segundo as tabelas que acabou de ver) das proteínas
e calorias com que são alimentados os animais de corte, apenas 10% são
recuperadas no consumo da carne.
Um acre de terra usado para criação de gado fornece apenas 450
gramas de proteína, ao passo que essa mesma área usada para a
plantação de soja produz 7.700 gramas!
Isto significa que, enquanto milhões de pessoas do mundo estão
morrendo de fome, os carnívoros estão estragando vasta quantidade de
terras, água e cereais para produzir a carne que consomem.
Muitos cientistas dizem que a solução para a crise de alimento no
mundo é gradualmente substituir a dieta carnívora pela dieta vegetariana.
Diz Pinkus:
"Se fôssemos vegetarianos eliminaríamos a fome do mundo.
As crianças nasceriam e cresceriam bem nutridas e viveriam uma
vida mais saudável e mais feliz.
Os animais seriam livres para viver naturalmente como crianças
selvagens e não forçados a reproduzir artificialmente, para serem
engordados com o alimento que pessoas famintas deveriam estar
comendo e serem em seguida mortos para agradar o paladar dos
carnívoros responsáveis por esse estado de coisas."
Compare as seguintes informações:
CARNÍVOROS SERES HUMANOS
1) Com garras Sem garras
2) Sem poros na pele; transpiram pela língua para
resfriar o corpo
Transpiram através de milhões de poros na pele
3) Dentes caninos frontais afiados para dilacerar a
carne
Ausência de dentes caninos frontais afiados
4) Glândulas salivares pequenas na boca (não
necessárias para pré-digerir frutas e cereais)
Glândulas salivares bem desenvolvidas,
necessárias à pré-digestão de cereais e frutas
5) Saliva ácida; nenhuma ptialina para pré-digerir
cereais
Saliva alcalina com muita ptialina para pré-digerir
cereais
6) Ausência de molares para triturar os alimentos Molares para triturar os alimentos
7) Ácido clorídrico no estômago para digerir
músculos animais, ossos duros, etc.
Ácido estomacal vinte vezes mais fraco do que o
dos carnívoros
8) Comprimento dos intestinos de apenas três
vezes o tamanho do corpo, a fim de eliminar
rapidamente a carne em estado de putrefação
Comprimento dos intestinos de doze vezes o
tamanho do corpo, pois as frutas, cereais, legumes,
etc. não apodrecem tão rapidamente e, portanto,
podem ser eliminados do corpo mais lentamente
Quando você come carne se torna responsável pela fome no mundo,
pela morte de milhares de crianças desnutridas e pelo desespero de mães
que não têm culpa pelo apetite voraz e necrófago que o domina!
Pense a respeito, aja com a dignidade de um ser humano.
Como você pode se permitir ter uma mãe e um pai, ou mesmo ser
uma mãe ou um pai para uma criança se você assassina a mãe e o filho de
outras pessoas apenas para satisfazer seu paladar hediondo?
Não seja covarde, enfrente e domine seu apetite!
Com a palavra o Dr. Owen Parrett:
"Nos últimos cinquenta anos escolhi uma dieta que não inclui carne
(nenhum tipo de carne, nem mesmo de peixe ou galinha).
Amo a vida e desejo viver tanto quanto possível.
Os dias que correm são agitados e significativos e desejo saber o
que está para acontecer.
Já passei da idade bíblica dos setenta e sou grato a Deus pelo fato
de ainda considerar os dias por demais curtos para tudo que desejo fazer.
Ainda mantenho como médico uma satisfatória clientela e gosto de
me entregar a outras atividades, mesmo que durante os poucos minutos
que me sobram livres todos os dias.
A maioria de meus pacientes com a minha idade está aposentada,
porém não tenho intenção de aposentar-me tão cedo.
Depois de estudar cientificamente e observar a doença e suas
causas durante muitos anos, cheguei à convicção de que se eu tivesse
comido carne durante minha vida, estaria agora muito decrépito para poder
exercer a prática da Medicina.
Um médico deve estar em condição de pensar claramente e ter
reserva de resistência e energia nervosa.
O finado Dr. Alexis Carrel, ganhador do Prêmio Nobel em 1912,
reconheceu que a eficiência das células em prover nutrição e eliminar
resíduos era o que determinava o envelhecimento dos tecidos.
Ele prolongou a vida de um pedaço de coração de galinha
banhando-o em um líquido nutriente que também eliminava o resíduo.
Tanto sucesso alcançou ele que o pedaço de coração de galinha foi
mantido vivo desde 1913 a 1947.
Depois de 34 anos foi atirado em uma fossa, onde morreu.
O Dr. Carrel provou que a duração da vida depende em grande parte
da eliminação de resíduos e da nutrição das células.
Se pudéssemos regularmente eliminar todos os resíduos de nosso
corpo e propiciar-lhe nutrição adequada, poderíamos facilmente desfrutar
de vida longa.
Se o líquido que banha nossas células estiver carregado com
resíduos a vida será encurtada.
A Bíblia revela que dez gerações antes do Dilúvio o homem vivia em
média 912 anos.
Após o Dilúvio o homem começou a comer carne, o que encurtou a
vida das dez gerações seguintes para uma média de 317 anos.
Há alguns anos, o Dr. Irving Fisher, professor da Universidade de
Yale, provou que quando atletas VEGETARIANOS principiantes competiam
com os melhores atletas dessa Universidade, esses novatos possuíam
mais que o dobro da resistência dos atletas que comiam carne.
Johnny Weismuller, o Tarzan dos filmes e campeão mundial de
natação havia, enquanto vegetariano, batido 56 recordes mundiais, depois
disso passou a se alimentar de carne devido à insistência de seu treinador
que julgava a dieta vegetariana insuficiente em proteínas.
Enquanto carnívoro, apesar de seus grandes esforços e de sua
participação em inúmeras competições, não conseguiu quebrar mais
nenhum recorde durante um período de cinco anos.
Como os anos haviam se passado e não mais havia conseguido
nenhum outro destaque na prática desse esporte, todos julgavam que já
havia dado tudo que tinha para dar.
Foi então que Weismuller trocou de treinador e voltou a uma dieta
vegetariana, que depois de algumas semanas o levou a bater mais seis
recordes mundiais.
Por que isso?
A carne contém resíduos que o animal deveria ter eliminado.
Uma pessoa que come carne carrega-se com resíduos da carne -
quando esses resíduos atingem as células do corpo provocam fadiga e
envelhecimento.
Entre os produtos residuais do corpo destacam-se a uréia e o ácido
úrico.
O bife contém cerca de dois gramas de ácido úrico em cada quilo.
Quando a carne é cozida os resíduos se apresentam como um
extrato solúvel em forma de caldo de carne que muito se assemelha à urina
quando analisado.
Essa presença do ácido úrico explica o rápido aumento de energias
que a carne parece dar, exatamente como no caso do café.
O ácido úrico muito se assemelha â cafeína em seus efeitos sobre o
corpo.
A carne sólida leva várias horas para ser digerida e durante esse
tempo o estimulante desaparece manifestando-se então uma diminuição
de energia.
Outro perigo a que se expõem aqueles que comem carne é a doença
no gado.
A esposa de um capataz de um grande rancho contou-me que uma
das novilhas contraiu pneumonia, o que fez com que fosse conduzida
rapidamente a um matadouro e retalhada para venda.
O Dr. John Harvey Kellog disse, ao tomar parte de um jantar
vegetariano: "É confortador fazermos uma refeição e não termos de nos
preocupar com o que possa ter causado a morte do nosso alimento."
Um amigo me contou que sua esposa compareceu a um banquete e
pediu um prato vegetariano; a seu lado estava um homem que também
pediu um prato vegetariano.
Este lhe perguntou: - Desculpe-me, mas a senhora é vegetariana?
- Sim - respondeu ela - e o senhor?
- Não - retrucou o homem - sou fiscal de alimentos.
Ninguém melhor que os fiscais conhece o número das doenças
entre animais sacrificados para a alimentação.
Quando eu era estudante de Medicina os professores nos davam
provetas para serem usadas no cultivo de bactérias que provocam
doenças humanas como a febre tifóide e a peste bubônica.
Mandavam-nos preparar caldo de carne, colocar um pouco em cada
proveta e contaminá-lo com essas perigosas bactérias.
O caldo de carne era perfeito para esses germes e eles se
multiplicavam aos milhares.
Li em meu compêndio de Pediatria, de autoria do renomado Dr.
Emmet Holt, que se dois cães forem presos com correias e alimentados um
a água e o outro a caldo de carne, o cão que se alimentou com água viveria
mais tempo que o outro.
Isso porque o caldo de carne não contém qualquer propriedade
nutritiva se dele for extraída a gordura, contendo porém resíduos urinários
que rapidamente envenenam o cão.
A carne é o mais putrefaciente de todos os alimentos, quando se
deteriora nos intestinos pode tornar a pessoa mais seriamente doente do
que qualquer outra espécie de alimento.
Este fato permite compreender por que os membros de algumas
tribos africanas raramente são atacados de apendicite ou câncer, pois
raramente comem carne até se transferirem para as cidades onde essas
doenças se tomam comuns entre eles.
Quanto ao consumo da carne de aves, preste muita atenção a estes
fatos:
Foi descoberto que o câncer nas aves domésticas apresenta várias
formas.
Além da forma usual em que os tumores cancerosos são
encontrados, há uma forma transmissora em que a ave pode viver de
maneira natural, sem o menor sinal de câncer, embora seja capaz de
infectar outras aves.
Esta forma de câncer é tão difícil de descobrir que a única maneira
pela qual os pesquisadores podem finalmente determinar se uma ave
contraiu a doença é incubar um ovo da ave suspeita durante quatorze dias.
Depois dessas duas semanas a casca é esterilizada, o ovo é
cuidadosamente quebrado, sendo removido o embrião.
Do embrião é retirado o fígado, sendo injetada uma pequena porção
do mesmo em outra ave.
Caso se forme um tumor canceroso no local da inoculação sabe-se,
então, e somente então, que a ave que pôs o ovo está com a doença.
Praticamente não existe a mínima possibilidade de que um Fiscal de
Alimentos isole todas as aves enfermas e muito menor probabilidade de
que o consumidor esteja apto a fazê-lo quando escolher frangos para si
mesmo e sua família.
Tão generalizada está a doença entre as aves abatidas para
consumo que o Dr. Eugene Oakberg escreveu em um jornal:
"As conclusões a que chegamos deve considerar a possibilidade de
que todas as aves domésticas apresentam lesões microscópicas básicas
do linfoma."
Isto está em conformidade com a declaração de Ellen G. White:
"As pessoas estão continuamente comendo carne que está cheia de
germes da tuberculose e do câncer.
A tuberculose, o câncer e outras doenças fatais são assim
transmitidas."
O Dr. Newburg, da Universidade de Michigan, técnico de nutrição
das forças armadas, durante a última guerra criticava muito a dieta cámea
dos soldados americanos.
As autópsias efetuadas nos corpos dos soldados coreanos mortos
em batalha não apresentavam endurecimento das artérias. As razões: a
dieta coreana fundamentava-se em vegetais e cereais.
Uma preocupação médica muito comum é como as pessoas poderão
absorver proteína suficiente se não comerem carne.
O Prof. Rose da Universidade de Illinois, considerado uma grande
autoridade mundial no campo da proteína, diz que:
"Menos de vinte e cinco gramas por dia é tudo que a pessoa
necessita."
Se um homem não comer carne, nem ovos, nem leite, ainda assim
absorverá a média de 83 gramas de proteína por dia.
O Dr. Register e o Dr. Hardinge, ambos atuantes no campo da
nutrição humana, afirmam que o consumo de frutas variadas fornece
proteína suficiente para satisfazer as necessidades do corpo.
A evidência prova que a carne é um fator desnecessário no
programa de alimentação e pode introduzir no corpo substâncias capazes
de aumentar as doenças crônicas, as infecções e as moléstias
degenerativas.
Durante a Primeira Grande Guerra, em 1918, a Dinamarca ficou
bloqueada por mar e por terra, passando por grande falta de alimentos.
Criar gado para o abate seria estúpido, pois representaria uma perda
de 90 por cento do alimento ministrado para sua engorda.
O Dr. Hindehede, notável autoridade em nutrição foi chamado
urgentemente pelo Rei da Dinamarca para achar uma solução para o caso.
A nação foi colocada em um regime sem carne durante um ano.
Muitos médicos julgaram que tal medida seria calamitosa, mas os
efeitos provaram ser altamente benéficos, propiciando um recorde mundial
no índice de mortalidade baixa, diminuindo as taxas anuais de
falecimentos em 34 por cento, além de uma acentuada diminuição no
índice de doenças.
O retorno à alimentação cárnea no ano seguinte elevou o índice de
mortalidade ao nível anterior à guerra.
Minha mesa é abastecida com uma variedade de alimentos
deliciosos e a falta de carne jamais me preocupa.
Depois de estudar as doenças em animais no laboratório, o efeito de
uma dieta com carne em meus pacientes durante muitos anos, seria
realmente difícil eu passara comer carne novamente.
Estou plenamente de acordo com o notável nutricionista da John
Hopkins University, Dr. McCollum, que expressou sua opinião de que
qualquer pessoa que decida eliminara carne de sua dieta sentir-se-á muito
melhor.
Um dos fráteres da Fraternidade Kung Fu me enviou uma fotocópia
de um artigo de jornal com o seguinte texto, que transcrevo a seguir:
"O País da Longevidade
Quatro Mil Chineses com Mais de Cem Anos
O número de chineses com mais de 100 anos é de 3.765, dos quais
75 por cento são mulheres, informa o diário de expressão inglesa "China
Daily".
A região com maior número de centenários é Xinjiang, no noroeste
do país, onde a percentagem dos favorecidos pelo Deus da longevidade é
de 65 por cada milhão de pessoas, acrescenta o jornal.
A notícia indica que nessa região os centenários tendem a ser
vegetarianos, cultivando a sua própria verdura e tendo começado a
trabalhar desde muito jovens.
Os centenários entrevistados consideram que o trabalho diário é
uma das chaves para preservar a saúde.
A China, sociedade basicamente rural e industrialmente pouco
avançada, tem cerca de 1.050 bilhões de habitantes e um dos maiores
índices de longevidade."
Quanto à segunda parte da sétima regra budista, os livros de
Medicina informam que a ingestão de qualquer bebida alcoólica, mesmo
em pequenas proporções, destrói os neurônios, descalcifica os ossos, lesa
as fibras nervosas e os vasos cardíacos, irrita a mucosa gástrica,
desarranja os rins, elimina a vitamina B, diminui o oxigênio do sangue,
podendo, quando em grande dose, provocar a cirrose hepática.
Mas a questão da ingestão de bebidas alcoólicas não é tão simples
assim. Trata-se de uma doença e deve ser encarada como tal.
Na continuidade de minhas pesquisas assisti algumas reuniões dos
Alcoólicos Anônimos e ouvi depoimentos de rara intensidade emocional e
rico conteúdo humano.
Se você ouvisse falar de uma doença que estivesse atingindo nosso
país e vitimando 4 milhões de pessoas, afetando-as a ponto de torná-las
loucas durante algumas horas todos os dias, isso lhe causaria um certo
espanto, não é?
Pois fique sabendo que o alcoolismo é uma doença que provoca a
loucura em determinados períodos e que as pessoas vítimas dessa doença
prejudicam cerca de 20.000 pessoas no Brasil todos os dias, afetando a
vida social e empresarial desta nação com custos incalculáveis.
Segundo a A.A.A., a doença do alcoolismo ataca uma a cada treze
pessoas que bebem e é a terceira doença do mundo em número de mortes.
Somente na cidade do Rio de Janeiro uma estimativa situa a
existência de trezentos mil alcoólatras.
Sabendo-se que cada alcoólatra afeta e prejudica o comportamento
de pelo menos cinco outras pessoas em média, temos um milhão e
quinhentas mil pessoas prejudicadas diariamente só no Rio de Janeiro.
O alcoolismo é uma doença progressiva e, como tal, é acionada pelo
primeiro gole ingerido.
Estive em reuniões da A.A.A. ministradas em diferentes locais, mas
notei que estava sempre presente um pequeno outdoor eletrônico que
piscava de forma intermitente e onde estava escrito: "Evite o primeiro
gole."
Outro cartaz que está sempre presente diz: "Um é muito e mil não é
suficiente."
Espantei-me da lucidez da sétima regra budista que diz que não se
deve PROVAR bebidas alcoólicas.
Se você provar, já tomou o primeiro gole, não é?
Diz também a A.A.A.: "Não adianta tentar convencer um alcoólatra a
largar a bebida, até que ele mesmo reconheça a sua incapacidade perante
o álcool."
O alcoólatra começa bebendo socialmente, mais tarde passa a beber
habitualmente e depois começa a perder o controle e a beber sob qualquer
pretexto.
Nenhum esportista que se preza ingere bebidas alcoólicas e isso
inclui os praticantes de artes marciais, mesmo que os anúncios dos
fabricantes de bebidas mostrem o contrário na televisão. Não provar, evitar
radicalmente o primeiro gole é a melhor atitude em relação ao álcool.

8 - O praticante de Kung Fu deve conter seus impulsos sexuais.

Quando analisamos esta norma temos que compreender que ela foi
estabelecida para ser adotada pelos Artistas Marciais do Templo Shaolin,
que eram Monges e portanto haviam feito votos de castidade.
Em se tratando de pessoas comuns de nossos dias, seria exigir
demais impor a total abstinência sexual, mesmo porque seria praticamente
impossível cumprir essa regra vivendo dentro do mundo.
No entanto, podemos observar que é comum a prática de
abstinência sexual entre os esportistas profissionais, haja vista as
famosas "concentrações" dos jogadores da Seleção Brasileira.
A energia sexual quando contida por um ato da vontade pode ser
sublimada em realizações físicas (e/ou intelectuais) de excepcional
performance.
Isso não significa que o praticante de Kung Fu não deva permitir
uma livre expressão de sua sexualidade, e sim que deve manter um
controle sobre ela.
O que se recomenda é que se evitem os exageros que contribuem
mais para tornar o homem escravo de seus instintos do que senhor de si
mesmo.
O relacionamento sexual deve ser encarado com normalidade, não
se deve atribuir-lhe uma importância desproporcional e nem se deve
permitir-lhe que ocupe nossa mente a todos os momentos.
É fato notório que os grandes gênios de todas as épocas possuíam
intensa sexualidade e muitos autores consideram a sublimação dessa
sexualidade como um dos fatores que conduziram esses homens a suas
grandes realizações.
"Conta-se que dois monges caminhavam às margens de um rio
discutindo certos pontos da Filosofia Budista, quando deles se aproximou
uma mulher e perguntou-lhes se não podiam carregá-la até a outra margem
do rio, pois não desejava molhar suas vestes.
Um dos monges, sem titubear, tomou a mulher em seus braços e a
levou até a outra margem, depositando-a no chão, retomando à margem de
onde partira e continuando a discussão filosófica no ponto em que havia
sido interrompida, como se nada houvesse acontecido.
Diante dessa atitude o outro monge ficou muito espantado e
censurou o companheiro:
- Você não sabe que somos proibidos de nos aproximarmos de uma
mulher e que jamais podemos tocá-las ?!
O outro respondeu:
- Eu a carreguei para o outro lado mas a larguei lá, você continua
carregando-a."

9 – O praticante de Kung Fu não deve ensinar as suas técnicas a
ninguém que não seja Budista.


A transmissão completa dos ensinamentos de um estilo de Kung Fu
é responsabilidade difícil que preocupa os mestres conscientes de seus
deveres.
Evidentemente que esta norma também deve ser interpretada,
levando em conta o sistema de valores vigentes em nossos dias.
Na antiguidade os mestres não se permitiam sequer fazer
demonstrações públicas. Deixavam isso a cargo de seus discípulos.
Fazer demonstrações em primeiro lugar era sinal de certo orgulho
pessoal, indigno de um verdadeiro mestre. Em segundo lugar permitia que
o público aprendesse movimentos mais adiantados que tinham que ser
preservados.
Alguns dos mestres mais qualificados do Kung Fu moderno ainda
atendem a esse dever e raramente fazem demonstrações públicas.
Embora não se exija que os discípulos sejam budistas, é de
primordial importância que se verifique a lealdade e o caráter de um
praticante antes que se lhes permita o aprendizado de técnicas mais
avançadas.
As pessoas mudam com o tempo e os brasileiros em geral são multo
volúveis e emocionais, julgando seus mestres pela opinião dos outros
mais que por sua própria.
A violência é um fator marcante entre nosso povo, mormente se
observarmos que temos entre nós um dos maiores índices de
criminalidade registrado em todo o mundo.
Se um professor não for suficientemente responsável na escolha de
seus discípulos, acabará por disseminar sua arte entre pessoas menos
qualificadas que perpetuarão a violência e a discórdia entre seus alunos.
Recomenda-se especial cuidado com professores que falem mal de
outros professores ou de outros estilos. Em geral trata-se de pessoas que
tentam esconder nas críticas a própria incompetência.
Essa recomendação é especialmente verdadeira no que se refere a
fofoqueiros de origem chinesa. O fato de um praticante de Kung Fu ser
chinês não o transforma em um mestre nem traz dignidade a quem não a
possui (mesmo que se auto-intitule mestre).
Muitos estilos de Kung Fu desapareceram no passado devido a
dificuldade de se selecionar discípulos criteriosos que os preservassem.
Na intenção de preservar os conhecimentos milenares do Kung Fu
sem permitir que um só elemento se tornasse depositário de toda a
técnica, o Templo Shaolin nunca ensinava todo seu estilo a um só
praticante, preferindo transmitir técnicas parciais a cada discípulo, dessa
forma assegurando a unidade do Templo.
O mundo se encontra num estado caótico em que imperam a guerra
e a violência.
Aqueles que moram nas grandes cidades não possuem mais a
liberdade de se moverem em segurança pelas ruas, sem correrem o risco
de um assalto ou de uma atitude mais violenta por parte das pessoas que
lá convivem.
O Kung Fu e as demais Artes Marciais são armas poderosas que não
devem ser colocadas nas mãos de pessoas menos preparadas.
Aquele que ensina apenas as técnicas físicas do Kung Fu isoladas
do contexto filosófico e espiritual característico dessa arte, está apenas
demonstrando ser um medíocre que semeia a violência no mundo.
Que mundo estamos construindo para nossos filhos se semeamos
indiscriminadamente a violência?
Ê necessário que aprendamos a combater a violência em sua origem
dentro de nós, antes que ela se manifeste através de nossos atos.
Para isso temos que compreender que o que nos torna violentos é o
orgulho.
Estamos semeando a violência quando nos orgulhamos do estilo de
Kung Fu que praticamos, quando nos orgulhamos do nosso Mestre,
quando nos orgulhamos de nossa técnica, quando nos orgulhamos de
nossa força física, quando nos orgulhamos de nossa nacionalidade, etc.
E por que isso?
Porque quando achamos que aquilo que sabemos é melhor que
aquilo que os outros sabem, estamos adotando um comportamento de
superioridade que impõe um certo desprezo para com o conhecimento dos
demais, e isso é sinal de uma grande inferioridade nossa.
Temos que aprender a respeitar as demais pessoas, e isso inclui
aprender a respeitar o estilo e os padrões de comportamento das demais
pessoas.
Esse aprendizado de convívio harmonioso e tolerante é a marca do
praticante de Kung Fu amadurecido e idôneo.
Quando permitimos que a semente do orgulho penetre em nosso
coração, estamos abrigando o ódio e a discriminação dentro de nós.
Nesse momento o Kung Fu que cultivamos cessa de ser uma
expressão da arte e passa a ser uma expressão da violência.
E seremos piores que aqueles de quem falamos mal, menores que
aqueles que expressam modalidades de Kung Fu distintas da nossa.
É muito fácil criticar, adotar um comportamento desdenhoso com
relação a outros estilos e comportar-se de maneira orgulhosa diante dos
praticantes de outras modalidades.
Isso é tão fácil que qualquer idiota pode fazê-lo (e geralmente faz
mesmo!).
É de se esperar que um praticante de Kung Fu tenha mais dignidade
e adote um comportamento menos infantil.
"Certa feita vários Mestres e seus discípulos fizeram uma
demonstração de Kung Fu.
Como é usual nessas ocasiões, os mestres se colocaram em fita
indiana e ingressaram no pátio onde seria realizada a demonstração na
ordem de sua antiguidade (Kung Fu = Tempo de Habilidade).
Porém um discípulo fanfarrão e presunçoso adiantou-se e colocouse
ao lado de seu professor, ou seja, mais â frente que um mestre de outro
estilo que possuía muito mais tempo de treino que ele.
E passou a olhar o outro mestre com um ar de superioridade como
se possuísse o mesmo nível que ele.
O mestre o interpelou e lhe disse:
- Cheguei onde cheguei porque venci meu orgulho, ao passo que
seu orgulho venceu você."

10 - O praticante de Kung Fu tem que se imunizar contra a cobiça, a
agressividade e a fanfarronice.


Todos os comentários feitos na interpretação da norma anterior são
também válidos para a compreensão desta norma.
Nada mais ridículo que um artista marcial que se preocupe com
faixas, diplomas e carteirinhas de estudante.
Quantos atletas de grande potencial encerram suas possibilidades
por desistirem da oportunidade de estudar com um verdadeiro mestre,
para se prenderem a outros "mestres" menos sérios apenas por serem
chineses ou por venderem diplomas.
Já dizia Bruce Lee que a faixa serve apenas para segurar as calças.
Uma pessoa que se dedica às Artes Marciais deve possuir um desejo
sincero de evoluir tanto como lutador quanto como pessoa. Antigo
provérbio chinês diz que o maior guerreiro é aquele que vence a si mesmo:
só conseguimos vencer a nós mesmos quando dominamos nossos
impulsos de orgulho, de fanfarronice, de querer ser mais que os outros.
A humildade é a marca do verdadeiro campeão. Um campeão muito
papudo é logo esquecido e seus feitos diminuídos.
Embora muito do desempenho técnico do Artista Marcial dependa de
sua dedicação aos treinos, não devemos nos esquecer que o destaque na
Arte Marcial em geral é reservado a pessoas cujas condições físicas
hereditárias sejam superiores.
Por si só isso deveria ser motivação suficiente para que o praticante
dessas modalidades cultivasse a humildade, visto que ninguém é
responsável por suas condições hereditárias.
Nada mais honroso que ver o forte protegendo o fraco, o poderoso
socorrendo o oprimido, o virtuoso amparando o débil.
A preocupação do Artista Marcial não deve ser tornar-se mais forte
que os demais nem vencê-los, e sim tornar-se mais forte diante de si
mesmo e vencer-se a si, ao invés de tentar vencer os outros.
Muitos já ouviram falar da pecadora que foi atirada aos pés de Jesus
para que fosse apedrejada conforme ditava antiga lei mosaica.
A resposta de Jesus foi:
"- Aquele de vós que não pecou que atire a primeira pedra."
Parafraseando a Jesus pergunto: Quem possui suficiente domínio
sobre si mesmo para que possa presumir ser melhor que os outros?
As vitórias do mundo são sem valor, pois tudo fenece diante da
morte; aquele que é forte hoje será fraco amanhã; se os fortes de hoje não
ensinam com seus exemplos a proteção dos fracos, quem os protegerá
amanhã quando se tornarem fracos eles mesmos?
"Na Província de Hopei viveu um camponês chamado Li-Ne-Jam que,
apesar de ser pobre e humilde, era um profundo conhecedor do Kung Fu.
Um dia foi assistir a demonstração de dois famosos heróis, os
irmãos Tai-Ling-Pang e Tai-Lung-Pai, mas não se impressionou muito, pois
percebeu que sua própria arte era superior.
Ao invés de fanfarronear-se, guardou para si mesmo esses
sentimentos e não falou a respeito nem se exibiu.
Um dos irmãos percebeu que aquele camponês pobre e maltrapilho
não se impressionara com a exibição e o seguiu.
Quando Li-Nem-Jam estava novamente trabalhando no campo,
aproximou-se por trás e o agarrou fortemente tentando demonstrar toda
sua força.
Li-Ne-Jam o atirou ao ar facilmente, arremessando-o longe. Surpreso
com tamanha habilidade, o homem se ergueu e perguntou-lhe como o
fizera.
- Pura sorte, respondeu Li-Ne-Jam e continuou a trabalhar..."


Considerações Finais:

Excetuando-se os fráteres filiados à Fraternidade Kung Fu, esta é uma das
primeiras vezes que o público brasileiro tem a oportunidade de conhecer as
Dez Normas Budistas do Templo Shaolin.
Você, leitor é um privilegiado por ter tido essa
oportunidade.
A questão é: acabamos de estudá-las; o que faremos com esses
conhecimentos?
Como aplicaremos essas normas em nossa vida prática, em nosso
dia-a-dia?
Procure estabelecer um plano de trabalho visando a adaptação
destas normas à sua própria realidade.

11 comentários:

  1. Espetacular! muito obrigado!

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  2. To fazendo um trabalho e vc o facilitou

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  3. Vou mudar em muitas atitudes!Namastê!

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  4. Vou mudar em muitas atitudes!Namastê!

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  5. vou guardar esses conhecimentos em meu coração. obrigado por compartilhar.

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  6. Bacon is love. Seria um canibal se isso fosse permitido. Quem é vegetariano gosta de queima a rosca fácil.

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    1. Tudo lhe é permitido. Porém sem coragem e consciência, só o que te resta é ignorância e ira.

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  7. Começou a esfregar as costas do irmão mas teve que parar, pois
    descobriu que por onde passava sua mão a carne se abria e jorrava
    sangue..." Sangue de quem?

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  8. Muito obrigado por compartilhar com todos nós esses ensinamentos milenares .obrigado

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