segunda-feira, 22 de novembro de 2010

OS TREINAMENTOS NO TEMPLO SHAOLIN

  
Para se tornar discípulo no templo de Shaolin, inicialmente era necessário ter uma relação rigorosa desde os primeiros momentos. As crianças deviam ser levadas por seus pais até a porta do templo nos primeiros dias da primavera, período de chuva. Deviam ficar ali esperando ate que fosse aberto. Os monges levavam dias para abrir os portões do templo, obrigando as crianças a ficarem na chuva e ao vento. Desde este momento inicial, as crianças já eram selecionadas, pois as que ficavam eram poucas. As outras que fugirem das primeiras dificuldades, jamais agüentariam os rigorosos treinamentos do templo Shaolin.
A idade das crianças varava entre sete e doze anos. Tendo obtido permissão para adentrar o templo, elas passavam por outras etapas de seleção. Eram levadas a um pátio interno e seguiam ate uma mesa onde se encontrava um velho monge budista. Ao sentar à mesa, eram rigorosamente analisadas no comportamento: era proibido pedir comida. As que assim agiam recebiam alimentos e, após comê-los, eram dispensadas. As boas maneiras determinavam que se deveria esperar o desejo dos monges em oferecer comida.
Depois de algum tempo, era dada ás poucas crianças que não tinham sido dispensadas uma tigela sem o fundo e uma grande bolacha seca, do tamanho do fundo da tigela, e depois era servido o chá. Aqueles que não preenchiam o fundo com a bolacha fechando a base da tigela, eram dispensados. Não tinham inteligência suficiente mas se tomassem o chá antes que o monge idoso terminasse o dele e, então, as autorizasse a beber, também eram despedidas. O respeito aos mais velhos era obrigatório aos candidatos a monge Shaolin.
Após esta etapa, vinha a fase do teste de paciência e humildade. Era realizado da seguinte maneira: dava-se uma vassoura para a criança, e deixando a alguns dias, ou meses, varrendo os mesmos lugares. Devia cumprir as ordens sem questionar. Alem de varrer, devia fazer outras tarefas de limpeza: desde a cozinha e os sanitários independente disto, as crianças tinham que estudar as doutrinas religiosas budistas ensinadas no templo e seguir os diversos rituais la existentes.
O normal era dormir pouco e trabalhar muito. O tempo e o espaço, que segundo o budismo não passam de pura Maya – ou seja: Ilusão -, deveriam ser esquecidos. Daí, quanto mais tempo dedicassem aos estudos budistas melhor seriam, pois os anos são ilusões e nada mais. Portanto, os candidatos a monges (neófitos) não deveriam ter quaisquer ligações com o tempo. O importante era a dedicação à religiosidade e a preparação para o auto conhecimento através da meditação.
Com todas estas humilhações, as crianças, apesar de morarem no templo, ainda não eram consideradas estudiosas budistas.
Para ser realmente aceitas como discípulos de Shaolin, tinham como ultima etapa o inicio do treinamento de Kung Fu. Teriam que ter muita perseverança, pois inicialmente, elas eram meros sacos de pancadas dos monges mais velhos, tomando uma serie de surras diárias. Se conseguissem sair desta faze, eram então aceitas como discípulos. Passavam a mudar as cores das vestimentas e a ter um tratamento melhor, deixando de suas tarefas humilhantes para os novos candidatos.
As demais etapas ate a obtenção das vestes amarelas não eram fáceis. Havia uma variedade de testes marciais e artísticos, que passavam pelos conhecimentos da doutrina religiosa budista e das terapias orientais (massagem, moxaterapia, acupuntura). E ainda precisavam saber cozinhar, plantar e colher, falar, escrever e ler vários idiomas, inclusive o sânscrito ( língua inicial do budismo ). O monge tinha que possuir um ecletismo intelectual que incluía desde a política ate a educação religiosa, para que, ao manter contato com o povo, ele pudesse agir não somente como líder espiritual, mas como conselheiro para os diversos problemas sociais existentes em cada local.
Poderíamos afirmar que o verdadeiro monge Shaolin deveria ”pensar como um sábio e agir como um homem simples”, pois, apesar de todos estes conhecimentos, a conservação da humildade e das boas maneiras ao lidar com as pessoas era de suma importância.
O templo de Shaolin não era somente uma escola marcial, era uma escola para uma vida espiritual, na qual a marcialidade era o “carro-chefe” da condução para níveis mais elevados da consciência humana.
Para os monges, o fundamental era a evolução do espírito. Esse desenvolvimento passava por uma enormidade de detalhes. Tanto que somente com os anos brotaria de dentro de cada um, levando os seres humanos a perceber que não era preciso ter somente o domínio físico, pois isto era somente uma parte para atingir determinados conhecimentos essenciais.
Umas das experiências primordiais para ser um monge de Shaolin era o conhecimento da ciência terapêutica tradicional, em que a acupuntura, a tui-nah (massagem chinesa) e o uso de ervas medicinais eram utilizadas para profilaxia e o tratamento integral. Em suas andanças pela China junto ao povo, os monges tinham que saber arrumar ervas para poder tratar os necessitados em qualquer lugar. E se fosse necessário, recorreriam às técnicas marciais para a defesa de seu povo em geral.
Muitos historiadores nos relatam que os monges usavam as massagens como terapia evitando sempre o uso da acupuntura, pelo fato de esta técnica requerer a necessidade de agulhas, que eram muito caras na época. É preciso lembrar que os monges possuíam voto de pobreza e tratavam de pessoas igualmente pobres. Por isso, faziam massagens nos mesmos pontos da acupuntura, gerando assim energização e harmonia do homem com o universo, proporcionando saúde pscicobioenergética.
Dentro do templo Shaolin, as exigências marciais eram tão fortes quanto as de espiritualidade. Após longos anos de treinamentos marciais, o monge deveria lutar e vencer os cinco lutadores de Shaolin. Derrotando-os, o aspirante poderia solicitar a prova do Corredor da Morte, que consiste em passar por um local onde existiam cento e oito bonecos de madeira que eram devidamente preparados e objetivavam derrotar qualquer um que por ali tentasse passar. O esquema se resumia da seguinte maneira: a cada boneco que era derrotado imediatamente, outro surgia, obrigando o lutador a ter perícia marcial muito apurada, alem de possuir um domínio interior maior ainda, pois teria que ter muita concentração e percepção a cada novo passo que dava no Corredor da Morte.
Após passar pelo corredor da morte, o monge deveria abrir a porta de saída deste. Mais havia somente um meio de se fazer isso: era erguendo uma pesada urna. Esta urna era ornada em suas laterais com figuras de animais e era mantida praticamente em brasa. Para removê-la e abria a porta, o monge deveria fazê-lo segurando-a com os antebraços. Isso naturalmente, marcava seus antebraços com a figura dos animais, feito isso tatuagens forjadas a fogo na pele – que ele carregaria para o resta de seus dias.
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